11.5.11

Mudança













Era tarde da noite. Estava sentada entre inúmeras caixas de cor parda. Tudo parecia confuso e desordenado. Havia mudado naquele dia e o cansaço parecia massacrar cada músculo dolorido de meu corpo. No silêncio do apartamento novo, parei um pouco de empurrar as caixas. Deitei no chão e comecei a ouvir os sons da vizinhança: os carros que passavam na rua da frente, o ladrar do cachorro do vizinho do apartamento de cima, o som da televisão do vizinho do apartamento de baixo. Os sons e cheiros não eram familiares. Toquei o piso frio e não senti o conforto do tapete que cobria o assoalho da casa onde havia morado. Levantei e fixei os olhos através da vidraça. Logo descobri que a vista também não era familiar. Não conhecia ninguém. Estava em minha casa, mas não me sentia em casa.
Meus pertences, aquilo que adquiri e construí durante toda a vida, estavam “arrumados” dentro das caixas. Se precisasse de algum item específico teria que desempilhar caixas, rasgar a fita adesiva, procurar cuidadosamente e, principalmente, ter muita paciência. Sabia que precisaria trabalhar muito para que aquele lugar se tornasse habitável. Antes era necessário estabelecer um local para cada coisa. Só o pensamento de tudo o que precisava ser feito era o suficiente para me deixar ainda mais cansada…

Naquela noite, aprendi uma lição interessante: enquanto não formos para o céu estamos vivendo em um planeta que é semelhante a um apartamento novo e coberto por caixas. Podemos até acreditar que aquele é o nosso lar. No fundo, entretanto, sabemos que não é. A vida é dura é, muitas vezes, sentimo-nos exaustos e desencorajados só pelo vislumbre dos desafios que estão a nossa frente. As coisas que conquistamos com tanto esforço não passam de caixas de papelão de difícil acesso e desorganizadas. Muitas vezes, iludimo-nos ao acreditar que não existe um jeito melhor de viver. Por alguns momentos, esquecemos de que existe uma opção infinitamente melhor.

Mesmo assim, na correria louca da vida, ficamos acostumados a viver em meio às caixas da mudança. Lutamos muito, mas no fundo sabemos que, embora tenhamos casa, trabalho, família, algo sempre está fora do lugar. Algo está faltando. Não conseguimos nos acostumar com as desgraças, desilusões e sofrimentos da vida. Em meio a tudo isso, somos tentados a esquecer o que é ter um verdadeiro lar. Uma casa aconchegante onde tudo faz sentido. Um lugar onde memórias boas são construídas e onde podemos encontrar tudo o que mais amamos.

Naquela noite fria, enquanto fitava o teto do apartamento novo, entendi que o céu é nosso único e verdadeiro lar. Só ali poderemos abrir as caixas de nossa alma e sentir que, finalmente, todos os anseios e sonhos podem ser depositados em um único lugar. No coração de Deus, encontraremos aconchego. Em seu abraço, tudo fará sentido. Sentiremos que esse é o lugar onde sempre deveríamos ter vivido. No céu, encontraremos familiaridade nos cheiros, sons, imagens, gostos e em tudo o que tocarmos. Quando adentramos o lar, doce lar, que Deus preparou esqueceremos do contínuo desconforto que sentimos aqui na Terra, a jornada terá acabado. Chegamos a nossa primeira e última verdadeira casa – nosso lar eternal.


Carolina Costa Cavalcanti


Foto por Socar Myles

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