16.3.11

Encontro inusitado


















Aquele era um típico Sábado à noite de inverno na capital paulista. O tempo estava frio e chuvoso mas mesmo assim os shoppings e restaurantes estavam lotados de gente. Estava recebendo a visita de alguns familiares e decidimos caminhar alguns quarteirões de minha casa até uma pizzaria. Nas ruas cruzamos com outras pessoas que vestiam casacos pesados e se escondiam dentro em cachecóis macios. Elas também andavam despreocupadas pela rua e conversavam animadamente.
Em poucos minutos chegamos à pizzaria. O local estava cheio. O cheiro e calor do ambiente eram acolhedores. Tivemos que esperar alguns minutos até que o garçom indicou onde poderíamos nos acomodar. Alguns momentos depois estávamos analisando o menu para decidir o sabor da pizza que iríamos pedir. Entre uma risada e outra algo chamou minha atenção… Senti alguém tocar no meu ombro. Voltei os olhos rapidamente e o que vi me deixou desconsertada.

Era uma menina de bochechas rosadas e cabelos cacheados. Ela tinha no máximo 9 anos. Vestia uma blusa de frio gasta, calça jeans e um tênis velho. Rapidamente abriu uma caixa retangular e sussurrou:

- Moça, você gostaria de comprar um pano de prato? Tá baratinho!

Aquele foi um encontro inusitado. Estava surpresa pois não esperava ser abordada por essa menina dentro do restaurante. Em São Paulo é comum encontrarmos vendedores de rua nos faróis e esquinas da cidade. De certa forma, estamos preparados para lidar com suas ofertas. Naquele momento não consegui raciocinar. Respondi automaticamente:

- Não obrigada. – dei um sorriso para tentar minimizar o aspecto de frustração que brotou naquele pequeno rosto.

Sem insistir ela se dirigiu para a mesa ao lado onde foi ignorada. Fez mais duas tentativas mas as pessoas reagiram como eu. Meus olhos ficaram presos ao vulto da menina que se espremia entre as pessoas que fingiam não a ver. Logo a recepcionista notou sua presença e rapidamente a conduziu para fora do restaurante. Ela foi devolvida para a noite úmida e extremamente fria de São Paulo. Naquele local quente e acolhedor a menina não foi capaz de encontrar uma única pessoa que tivesse um coração igualmente quente e acolhedor.

Tudo isso aconteceu muito rapidamente mas aquele olhar esperançoso ficou cravado em minha mente. Lembrei-me da época em que era estudante e vendia livros de porta-em-porta para ajudar a pagar os meus estudos. Naquela época sabia valorizar qualquer ato de simpatia e compaixão recebido de estranhos que se dispunham a me ajudar da maneira que podiam: com um sorriso, com atenção, com um copo de água ou comprando meus livros.

Foi aí que me arrependi profundamente. Me arrependi por não ter perguntado para aquela menina onde morava, se estava trabalhando sozinha ou se a mãe estava esperando do lado de fora da pizzaria, se estava com fome… podia ter feito tantas coisas! Mas não fiz nada.

Levantei rapidamente e me dirigi para a porta de saída. Já na calçada olhei para todos os lados para ver se a menina ainda estava ali por perto. Não a encontrei… era tarde demais.

Naquela noite pedi perdão a Deus pela minha falta de compaixão. Roguei que me ajude a estar pronta para atender às necessidades das pessoas em qualquer situação. Inclusive quando o pedido de ajuda ocorrer em um encontro inusitado. Lembrei que o encontro com o nosso Senhor Jesus, na ocasião de sua segunda vinda, também acontecerá em um momento inesperado. Não quero ser pega de surpresa. Quero estar pronta. Para isso é preciso ter um coração maior que a razão. Um coração cheio do amor de Deus. Um amor acolhedor, inexplicável, surpreendente.

Carolina Costa Cavalcanti

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